O paradoxo do bacalhau

Chegaram a Lisboa de água na boca para comer bacalhau. Aneide e Fred, casal brasileiro endinheirado, querem comprar casa em Portugal. Só agora descobriram o berço de alguns antepassados. Fred guarda na memória as boas pratadas de bacalhau confeccionadas pela avó lusitana emigrada. Em Portugal, o bicho seco foi amparo de estômago de pobres e remediados mas é hoje infiel amigo, proibido a bolsos mais desguarnecidos. Este vício centenário de bacalhau seco entranhou-se por cá, também à custa de muitas mortes inglórias pelos mares gelados da Terra Nova e Gronelândia. Agora, o peixe já chega meio amanhado da Noruega e Islândia para posterior seca. Num restaurante à beira Tejo, Fred pede bacalhau à lagareiro e invoca os antepassados. "Benditos portugueses que descobriram o Brasil e o bacalhau!"