"Foi o fim de uma determinada forma de ser britânico", afirma o historiador Simon Schama.
Winston Churchill morreu há 50 anos e, apesar dos aspetos mais controversos, o legado de uma das figuras mais marcantes do século XX continua patente sobretudo pela oposição contra todas formas de totalitarismo.
"Em 1965 (24 de janeiro) aconteceu uma coisa tremenda: foi a morte do patriarca. Foi o fim de uma determinada forma de ser britânico, afirma o historiador Simon Schama no último episódio do documentário da BBC 'History of Britain'.
Schama estabelece o paralelo entre Churchill e o escritor George Orwell, que, apesar das profundas divergências políticas, acaba por homenagear o estadista dando o nome Winston Smith ao herói resistente do livro '1984' sobre um Estado futuro controlado à imagem do nazismo e do comunismo.
Winston Churchill, descente do duque de Marlborough, nasceu em 1847, no Palácio de Blenheim, perto de Oxford, e tinha antepassados muito mais remotos do que a maior parte da realeza britânica, apesar de a mãe ser norte-americana.
Poucos estudos
"Churchill tinha - em parte por culpa própria - poucos estudos. As crenças que defendia tinham origens simples: acreditava na piedade e na bondade da ama, Mrs. Everest; nos códigos de 'fair play' do colégio e na ética do Royal Military College (Sandhurst) e no regimento (Hussardos) em que serviu", escreve o historiador britânico John Keegan na biografia 'Uma Introdução à Vida de Churchill'.
Keegan recorda que apesar de ter frequentado a escola privada de Harrow, como a maior parte dos filhos dos aristocratas da época, Churchill não foi um estudante brilhante tendo aprofundado os conhecimentos e um estilo de escrita eloquente através da leitura de obras clássicas durante os anos em que serviu como militar na Índia colonial.
Por necessidades financeiras, Churchill comentava e publicava frequentemente os factos da própria vida, quer nos livros ('A minha Juventude' e 'Memórias da I Guerra Mundial') quer nos textos jornalísticos e conferências sobre a Guerra dos Boers, na África do Sul, na qual tomou parte tendo sido feito prisioneiro, ou a guerra de independência de Cuba de que foi testemunha.
Como militar, em vez de aceitar tornar-se oficial de um regimento de elite, optou por ser um simples atirador de cavalaria, "alistando-se a tempo de participar na última carga de cavalaria do exército britânico, na Batalha de Omdurman", no Sudão em 1898, destaca o historiador Tony Judt no livro 'Pensar o Século XX'.
Conservador e liberal
Judt refere que a carreira política de Churchill viu-o alternar em três ocasiões diferentes entre os partidos conservador e liberal, no decurso das quais ascendeu a altos postos governativos: ministro da Administração Interna, Finanças e da Marinha, em cujas funções foi responsável pela catástrofe militar de Gallipoli, na Turquia, (1915) durante a Grande Guerra.
"Até 1940, a sua carreira fora a do intruso demasiado talentoso: bom de mais para ser ignorado, mas demasiado original e 'pouco fiável' para ser nomeado para o mais elevado dos cargos", escreve Tony Judt.
Como parlamentar, nos anos 1930, manifestou-se frontalmente contra o rearmamento da Alemanha de Hitler e, em plena crise política no Reino Unido, na sequência da demissão do primeiro-ministro Neville Chamberlain, após a invasão da França pelos nazis, em maio de 1940, o rei Jorge VI acaba por nomear Churchill chefe de governo.
Winston Churchill tinha 65 anos quando tomou posse como chefe do Executivo britânico sem "nada mais para oferecer a não ser, sangue, suor e lágrimas" tendo sido capaz de mobilizar imediatamente o país na operação de retirada das Forças Expedicionárias que se encontravam encurraladas em Dunquerque, no norte de França.
No contexto da guerra aproximou-se dos Estados Unidos, tendo conseguido empréstimos para financiar as forças armadas e montando uma máquina de guerra contra a Alemanha, a Itália e o Japão, com elevados custos impostos pela austeridade que se prolongaram até meados dos anos 1950.
Relações degradam-se
Apesar dos feitos militares e da condução política nacional e internacional fechou os olhos, tal como Roosevelt nos Estados Unidos, à questão do extermínio dos judeus pela Alemanha nazi; não conseguiu evitar a anexação da Polónia pela União Soviética no final da guerra e autorizou o bombardeamento desnecessário de cidades alemãs, como Dresden, vitimando milhares de civis.
No final do conflito, as relações com Estaline degradam-se com Churchill a assumir-se como uma figura da Guerra Fria contra o mundo comunista atrás do que chamou 'Cortina de Ferro'.
Apesar de ter vencido a guerra perde as eleições no Reino Unido para os Trabalhistas liderados por Clement Atlee em 1945 mas volta a candidatar-se e vence as legislativas de 1951, numa altura de declínio do Império, depois da perda da Índia, e com uma crise no Quénia e a guerra na Malásia.
Em 1953 é-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura, sobretudo pelos seis volumes de memórias da II Guerra Mundial e em 1956, por motivos de saúde, abandona o cargo de primeiro-ministro.
"Nação chorou a morte"
A 10 de janeiro de 1965 sofre um acidente vascular cerebral e morre duas semanas depois, no dia 24, com 90 anos de idade.
"A nação chorou a sua morte, expressando o seu pesar no velório em Westminster Hall, quando trezentas mil pessoas desfilaram perante o seu caixão, e durante o funeral oficial, o primeiro dado a um membro da Câmara dos Comuns desde a morte do duque de Wellington, há mais de um século", relata Martin Gilbert na longa biografia 'Churchill - Uma Vida'.
No mesmo texto, Gilbert, recorda que a rainha Isabel II referiu-se a Churchill como um "herói nacional" e Atlee descreveu-o como "o maior cidadão do mundo do nosso tempo".
O caixão foi depois transportado numa barcaça ao longo do Tamisa até à estação de Waterloo e à passagem da embarcação, os enormes guindastes junto às docas nas margens do rio eram rebaixados como se fizessem uma vénia.
Winston Churchill está sepultado no local onde nasceu, o Palácio de Blenheim, junto aos pais e ao irmão.
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