Gaspar Ramos diz que foi Pinto da Costa quem começou a guerra com as águias, por não ter cumprido um pacto de não agressão, ao contratar Rui Águas e Dito em 1988/89.
Sobre o árbitro do clássico de hoje, o antigo dirigente do Benfica diz que Pedro Proença é um "homem sério", mas frisa que "na dúvida acaba se mpre por prejudicar" os encarnados, por ser adepto do clube.
Correio Sport - Quais são as suas expectativas para o clássico do Dragão?
Gaspar Ramos - Como benfiquista e observador da realidade futebolística, estou convencido de que o Benfica não vai perder e será campeão. Tem melhor equipa e melhores jogadores, apesar de ter apresentado um défice de condição física a partir do jogo com o Sporting [2-0]. Espero que recuperem até lá, para que os futebolistas com mais nível possam sobressair.
- Para o Benfica, é melhor jogar ao ataque ou tentar segurar o empate, que garante, na prática, o título?
- A equipa tem de fazer o seu jogo, apostar na pressão alta, tal como sabe fazer. Se for para o Dragão a pensar no empate, pode perder. Defender não é característica desta equipa, e os jogadores têm de mostrar toda a sua qualidade.
- Que lhe parece a nomeação do árbitro Pedro Proença?
- É o jogo do ano, tem de ser arbitrado pelos melhores, e o melhor é Pedro Proença. Generalizou-se a ideia de que Proença prejudica normalmente o Benfica e, de certa forma até concordo, mas ele é um homem sério.
- Um homem sério, mas que prejudica normalmente uma equipa...
- Sim, Proença é um homem sério e até teve a frontalidade de dizer que é benfiquista. Por ser sério, não quer ficar colado à imagem de árbitro que beneficia o seu clube. Então, na dúvida, acaba mesmo por prejudicar. Mas, num jogo desta qualidade, Proença vai querer mostrar a sua categoria.
- Porquê a razão de tanto ódio entre Benfica e FC Porto?
- O ódio não é entre Benfica e FC Porto. Criou-se entre os dirigentes. E o primeiro responsável por esta guerra é uma figura que continua a mandar no futebol português. Quem conheceu situações como eu conheci no passado sabe que ele não olha a meios para conseguir fins.
- Refere-se a Pinto da Costa?
- Sim, foi ele quem começou essa guerra, e eu próprio, na altura chefe do departamento de futebol do Benfica, respondi-lhe à letra quando me senti apunhalado pelas costas.
- Apunhalado pelas costas?
- Numa altura em que vigorava um pacto de não agressão entre os três grandes, eu estava a negociar a renovação de Dito e Rui Águas, mas alguém alertou-me para o assédio do FC Porto a esses jogadores. Telefonei a Pinto da Costa, confrontei-o com a situação e perguntei-lhe se o acordo era para vigorar. Respondeu-me "claro que sim", mas, quinze dias depois, contratou--os. A partir daí, passei a aliciar jogadores do seu clube em final de contrato e, com isso, desestabilizei as contas do FC Porto. Essa guerra manteve-se até agora, passou para os sócios e para os adeptos e existe hoje em dia esta exacerbação.
- A conquista deste campeonato pode consolidar a hegemonia do FC Porto ou dar início a novo ciclo do Benfica?
- Este campeonato pode ser um trampolim para um período de vitórias do Benfica. Independentemente de o passivo ser alto, o Benfica está bem em termos estruturais, e este título poderá vir a alavancar uma hegemonia de vários anos. Eu estou convencido disso.
- Naquela altura, era mais difícil travar a guerra de que fala?
- Era mais difícil, porque a comunicação social não estava tão organizada e tão desenvolvida como agora. No jogo em que ganhámos por 2-0, com dois golos do César Brito (1990/91), aconteceram coisas incríveis no túnel do Estádio das Antas. Mas só nós é que vimos. Agora não, há câmaras por todo o lado, e é mais fácil investigar. Naquele tempo, havia pressões sobre árbitros, agressões a jornalistas, agora isso não é possível. A comunicação social do Norte temia represálias.
- Nessa guerra, ficou a colada a si a imagem de que perdeu Jardel para o FC Porto...
- Fui eu quem descobriu Jardel, numa altura em que nem era diretor do Benfica. Em Portugal, ninguém o conhecia. O presidente Manuel Damásio pediu--me para ir tratar de um jogador ao Brasil. Quando assistia a um jogo dele no Maracanã, percebi logo que podia vencer no nosso futebol. Falei do assunto a Manuel Damásio. O empresário de Jardel veio a Portugal negociar, mas o Benfica não tinha dinheiro e recusou as condições que Jardel e o empresário exigiam.
- Era diretor do futebol do Benfica em 1987. Como vê a denúncia de Casagrande sobre o uso de doping no FC Porto?
- Estava no Brasil e vi o programa do Jô Soares. Não tenho garantias de que isso fosse verdade, mas, em 1987, havia suspeitas de doping no FC Porto. Falava-se até de cafeína. Ao ouvir Casagrande, lembrei-me dos comentários na altura.
- Como explica a subjugação desportiva dos dois grandes de Lisboa ao FC Porto?
- Uma das razões foi o controlo das instâncias desportivas por parte do FC Porto. Mas há outro aspeto fundamental, que é o Benfica e o Sporting estarem de costas voltadas. Às vezes, isso é provocado pelo FC Porto, mas noutras ocasiões são os próprios clubes de Lisboa que criam essas situações. Pondo de lado rivalidades desportivas, se o Benfica e o Sporting se entendessem, a hegemonia do FC Porto não seria assim.
PERFIL
José Gaspar Ramos nasceu em Salgueiro, Arganil, a 18 de outubro de 1940 e afirmou-se como jogador de râguebi no Benfica, entre 1960 e 1974. Foi diretor das modalidades amadoras e diretor das instalações sociais, até ser chamado a chefiar o departamento de futebol. Primeiro, entre 1979 e 1980, e depois de 1987 a 1992.
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